Apesar das vantagens propiciadas à
nossa espécie (Homo Sapiens) pela
‘linguagem’, como forma eficiente de comunicação, fluxo de informação, e
outras, na geração atual esta tem representado desafios, em muitos casos uma
barreira quase impossível de vencer. Por mais que ‘traduções’ possam parecer
simples, traduzir termos, especialmente na área acadêmica, é um desafio
onipresente, mas pouco considerado, negligenciado em muitos casos. Talvez
problemas com traduções somente perca para nomear em se; ver, por exemplo,
curiosos comentários de A. Einstein, cientista reconhecido por trabalhos
diversos em física, prêmio Nobel em 1922, sobre o nome dado por este mesmo à
sua teoria mais famosa, teoria da relatividade, na verdade Einstein não é uma
exceção, mas sim quase a regra. Na maioria dos casos, nomes podem ser fonte de
enganos.
Este artigo possui vários objetivos, um
trabalho multiobjetivo, mas principalmente: 1) propor o uso definitivo do termo
“Biologia Sistêmica” como tradução do Inglês “Systems Biology”; 2) apresentar em um artigo único, referência
única, a área de biologia sistêmica e oportunidades de atividades para
pesquisadores da grande área chamada Inteligência Computacional (IC)[1];
3) publicar na língua portuguesa um trabalho formal usando o nome biologia
sistêmica e termos, como, por exemplo, o uso do termo Redes Funcionais como
tradução para Network Motif. Como
pode ser notado pelo título, dois nomes poderiam ser dados a este trabalho: ‘Biologia
Sistêmica: um novo paradigma para as ciências biológicas e exatas’ “ou” ‘Biologia
Sistêmica e Inteligência Computacional’. O primeiro destaca biologia sistêmica
como o personagem principal da história, ao passo que o segundo título destaca
o papel da inteligência computacional na solução de problemas encontrados na
aplicação da teoria que forma a biologia sistêmica. Os dois títulos são
válidos.
Almeja-se tanto o público da inteligência
computacional em busca de novas áreas para aplicar suas metodologias como o público
da biologia sistêmica, ou mesmo biologia e correlacionada áreas, que buscam
novas ferramentas para enfrentar os desafios postos adiante destes. Infelizmente, ou mesmo felizmente, prever de
forma precisa quem irá o seu artigo parece impossível.
Sem dúvida alguma a maioria dos leitores irá se
indagar da necessidade de um artigo tendo a defesa da tradução de um termo do
inglês para o português como um dos seus objetivos possui algum valor, mesmo o
autor deste artigo o faria. Na verdade, por trás deste artigo está uma busca
maior, principalmente provocar discussões
sobre a tradução ou não de termos do inglês, no caso de ‘sim’, da necessidade
de buscar padrões, convergência. Línguas como a Italiana geralmente não
traduzem, como exemplo, no caso de biologia sistêmica esses usam o termo em
inglês Systems Biology, existe uma
tradução no Wikipédia, mas de acordo com experiência do autor esse termo não é
aceito por todos, nem mesmo publicações usando o termo aparentemente existe.
Segundo experiência do autor deste artigo, eles preferem os termos em inglês, talvez
por que a Itália adota o inglês em universidades como forma de ensino, no caso
do Brasil, visivelmente, nenhuma universidade brasileira usa o inglês, mesmo em
caso de estudantes internacionais, algo que parece a exceção, longe da regra[2].
Uma das problemáticas da negligência de uma boa tradução pode ser visto na
dificuldade de trazer novas áreas para o Brasil[3].
Das línguas latinas, à primeira vista, o português adotou a tradução mais
diversa e mais “original” da palavra Systems
Biology[4].
Talvez a problemática maior dos falantes da língua portuguesa seja a falta do
hábito de documentar em português[5].
No momento não há, até onde o autor deste
artigo sabe, artigos publicados em português usando o termo biologia sistêmica,
pelo menos da forma como deve ser usado, excerto por um grupo na Universidade
de São Paulo (USP)[6], criado
em 2010, e um artigo no Wikipédia[7],
criado em 2009. De forma adicional o uso pelo autor em 2012[8]
ou mais recentemente[9].
Vale a pena notar que o Brasil corresponde a aproximadamente 80% dos falantes
da língua portuguesa[10].
Posto desta forma, este artigo apresenta o
conceito de biologia sistêmica, métodos atualmente usados nesta, e conceitos
importantes como redes funcionais. Para evitar citar o seguinte trabalho, do
mesmo autor deste artigo, Pires (2012), assumi-se que esta é uma leitura
importante, mas não necessária no sentido de ser impossível entender o artigo
aqui apresentado sem o mesmo. Como muitos comentam, a área de biologia
sistêmica muda muito rapidamente, sendo assim o trabalho Pires (2012)
provavelmente já esta fora de data. Vale a pena notar que o que muda em
biologia sistêmica é a tecnologia, por exemplo, uma nova tecnologia para
estudar expressão genética pode ser criada em questão de anos entre a mais
recente, o que em alguns casos abre ou mesmo fecha as portas para certas
ferramentas da ciência da computação como inteligência computacional.
Considere esquema abaixo, figura 1, adaptado de Bolouri
(2008). Este esquema mostra os três pilares da “biologia moderna”: tecnologia,
computação, experimentos; possivelmente abreviado como TCE, um tripé. Note que
a biologia tradicional usava somente experimentos. É neste ponto que biologia
sistêmica tem ganhado terreno, propondo novas forma de pensar, novos
paradigmas, conectar o que parecia impossível.![]() |
Figura 1.
Dinâmica nas áreas biológicas como biologia sistêmica. In Silico – Simulação em Computadores; In Vivo – simulação em sistemas vivos; In vitro – simulação em laboratório. Fonte: adaptado de Bolouri
(2008)[1].
[1] Um diagrama similar é usado em Institute for Systems Biology. http://www.systemsbiology.org/about-systems-biology.
Acessado em Julho 2014.
|
Logo em seguida um segundo esquema é
apresentado, também adaptado de Bolouri (2008). Neste esquema, figura 2,
deixa-se claro como cada vez mais experimentos estão sendo planejados e usados
de forma mais eficientes para gerar conhecimento; ou seja, cada vez mais
experimentos estão sendo usados somente em casos particulares, de grande importância.
Segundo um ditado em estudos de proteínas, tradução livre do inglês, “nunca
perca pensamentos puros com amostras impuras”, todo esse arsenal em volta de
experimentação pode ser vista como uma forma de contribuir com essa filosofia.
Um breve passeio pela internet nos propicia a
seguinte informação com relação à biologia sistêmica. De acordo com o Institute for Systems Biology[1],
tradução livre , biologia sistêmica é: uma ciência da informação, é uma visão
holística invés de reducionista na busca de entender processos biológicos de
natureza complexa, uma visão colaborativa entre campos da ciência, biologia
sistêmica integra informações de diferente escalas de um sistema biológico,
biologia sistêmica propõe novos experimentos na busca de capturar
comportamentos temporais e espaciais em redes biológicos, permite o
desenvolvimento de modelos para previsão e ação em biologia e doenças.
De acordo com EuSysBio, tradução livre,
biologia sistêmica é definida como o estudo das interações entre componentes de
sistemas biológicos, e como estes componentes interagem dando espaço para
funções e comportamentos do sistema. A origem da biologia sistêmica vem da
preocupação em investigar respostas em grupo de células a fármacos ou mesmo
estresse proveniente do ambiente.
De acordo com LaBiSisMi, “A Biologia
Sistêmica é o ramo da ciência que busca entender os organismos biológicos
em todos os seus níveis, desde a caracterização de suas partes constituintes
(genes, RNAs, proteínas, metabólitos), a elucidação das interconexões entre os
distintos membros dessas redes de interações, até a compreensão do organismo
como um todo”. Mais definições podem ser achadas em Myers (2010). Todas elas
convergem à busca de propriedades
emergentes. Propriedades emergentes são funções ou mesmo comportamentos que
um sistema pode exibir, mas somente quando mais de um componente interage. Por
exemplo, em 2013, como parte do IIComplexNet,
foi apresentado dois neurônio construídos em sistemas elétricos, quando
esses disparam de forma aleatória, nada ocorre, mas quando uma ponte é ligada,
permitindo a interação, dos disparos aleatórios surge “ordem”, um “ritmo”. Na
verdade este tipo de comportamento é mais comum do que parece, especialmente no
genoma. Noble (2006) comenta sobre os primeiros estudos no ritmo cardíaco, o
fato de que esse surge da interação entre proteína foi uma grande ou mesmo
indesejada surpresa para a época.
Com relação à
organização do manuscrito, o artigo foi dividido em seções na tentativa de
facilitar as discussões. Biologia matemática representa um grande campo no qual
biologia sistêmica pode ser incorporada. Em seguida se apresenta mais sobre
biologia sistêmica, então se discuti nas direções da biologia computacional,
campo que realmente promete. Três áreas das ciências aplicadas possuem muito a
ganhar com o estabelecimento da biologia sistêmica: calculo estocástico, teoria
de controle, e inteligência computacional. Das três, a que mais possui a ganhar
com o estabelecimento da biologia sistêmica como um campo firme é inteligência
computacional. Em trabalhos ainda em fase de publicação[1],
o autor está desenvolvido uma metodologia para conectar “matemática clássica” com
“modelos baseados em conhecimento”, chamados de Blind Models (PM) ou Partial
Blind Models (PBM), infelizmente existe uso dos termos ‘caixa preta’,
‘caixa cinza’, ou mesmo ‘caixa branca’ de forma controvérsia, a metodologia
mencionada poderia não somente esclarecer esses usos, mas também propor novos
modelos de forma sistemática, como, por exemplo, a “cor” de um modelo.
[1] About
Systems Biology. http://www.systemsbiology.org/about-systems-biology.
Acessado em Agosto 2014.
[2] É interessante notar que muitos estudantes
estrangeiros gostariam de estudar no Brasil por um tempo, aparentemente para
conhecer, algo que já ocorre em países europeus com programas como Erasmus.
[3] É interessante notar que em 2009, o autor deste
artigo participou de uma discussão na Escola Luso-brasileira de Computação
Evolutiva. Existia um problema entre a tradução mais correta do inglês,
“evolutiva” ou “evolucionária”. Muito dos problemas nascem da estrutura das
línguas, que muitas vezes diferem de forma considerável.
[5] Os artigos em Inglês no Wikipédia é cinco vezes maior em número do que
em português, até mesmo a Itália é maior do que o Brasil em termo de escrever
na língua nativa.
[6]LaBiSisMi (Laboratório de Biologia Sistêmica de
Microorganismos), USP. http://labisismi.fmrp.usp.br/index.php/br/biologia-sistemica.
Último acesso: Julho 2014.
[8] Pires e Palumbo (2012).
No comments:
Post a Comment